A relação entre hormônios e libido é uma das conversas mais íntimas e importantes que tenho com minhas pacientes. Se você está grávida ou acabou de ter seu bebê, é muito provável que tenha notado mudanças no seu desejo sexual.
Quero que saiba, antes de tudo, que isso é completamente normal. Seu corpo está passando por uma das transformações mais profundas e incríveis da vida, e essa dança hormonal reverbera em todas as áreas, inclusive na sua intimidade.
Muitas mulheres sentem-se confusas ou até mesmo culpadas por essas flutuações. Em alguns momentos, o desejo pode desaparecer, enquanto em outros, ele pode surpreender com uma intensidade nova.
Essa montanha-russa de sensações não é um reflexo do seu relacionamento ou do amor que você sente, mas sim da poderosa bioquímica que orquestra a gestação e o pós-parto. Portanto, entender essa conexão é o primeiro passo para se acolher com mais gentileza.
A montanha-russa do primeiro trimestre
No início da gravidez, seu corpo se torna uma verdadeira usina hormonal. Os níveis de progesterona e estrogênio disparam, e um novo hormônio entra em cena com força total: o HCG (gonadotrofina coriônica humana).
Essa avalanche hormonal é essencial para sustentar a gravidez e desenvolver o bebê. Contudo, ela também é a grande responsável pelos sintomas clássicos dessa fase, como o cansaço extremo, a sensibilidade nos seios e os enjoos.
Diante desse cenário, é muito natural que o desejo sexual fique em segundo plano. O corpo está trabalhando intensamente e direcionando toda a sua energia para a gestação. Além disso, o mal-estar físico e a fadiga constante podem diminuir significativamente a disposição para a intimidade. É fundamental que você e seu parceiro ou parceira compreendam que essa fase é temporária e faz parte do processo.
Portanto, não se assuste se sua libido diminuir drasticamente no primeiro trimestre. A relação entre hormônios e libido aqui é de prioridade biológica. Seu organismo está focado na missão de proteger e nutrir seu bebê. Acolha seu corpo, descanse sempre que possível e mantenha o diálogo aberto sobre seus sentimentos e sensações.
O auge no segundo trimestre? Para muitas, sim!
Passada a turbulência inicial, o segundo trimestre costuma ser uma fase de muito mais bem-estar para a maioria das gestantes. Os enjoos tendem a diminuir ou desaparecer, a energia volta a subir e a barriguinha começa a aparecer de forma mais evidente. Hormonalmente, os níveis se estabilizam em um patamar elevado, mas o corpo já está mais adaptado a eles.
É neste período que muitas mulheres relatam um aumento significativo na libido. Um dos motivos para isso é o grande aumento do fluxo sanguíneo para a região pélvica, incluindo o clitóris e a vagina. Essa vascularização intensa pode aumentar a sensibilidade local e tornar o orgasmo mais fácil e intenso. A lubrificação vaginal também costuma melhorar graças aos altos níveis de estrogênio.
Assim, a combinação de bem-estar físico, estabilidade emocional e alterações fisiológicas favoráveis pode criar um cenário perfeito para a vida sexual. A conexão entre hormônios e libido se torna positiva e potente. Aproveite essa fase para se reconectar com seu parceiro(a) e explorar essa nova sensualidade que a gravidez pode trazer, sempre com conforto e segurança.
O puerpério e a revolução hormonal
Se a gravidez é uma montanha-russa, o puerpério é uma verdadeira revolução. Logo após o parto, ocorre uma queda abrupta e massiva nos níveis de estrogênio e progesterona, que estavam altíssimos na gestação. Essa mudança drástica é um dos principais gatilhos para as alterações de humor e para o famoso “baby blues”. E, claro, ela tem um impacto direto na sua libido.
Ao mesmo tempo, outro hormônio assume o protagonismo, especialmente se você está amamentando: a prolactina. A principal função da prolactina é estimular a produção de leite materno. Entretanto, ela também tem um efeito colateral importante: ela age no cérebro suprimindo a ovulação e, consequentemente, diminuindo o desejo sexual. É um mecanismo de proteção da natureza para evitar uma nova gravidez muito cedo.
Essa nova configuração hormonal, com estrogênio baixo e prolactina alta, cria o cenário fisiológico perfeito para uma libido diminuída. Além disso, o estrogênio baixo pode causar secura vaginal, tornando a relação sexual desconfortável ou até dolorosa. Entender que existe uma base biológica forte para a falta de desejo nesse período é fundamental para aliviar a pressão e a culpa.
A ciência por trás do desejo no pós-parto
A ciência tem se dedicado a entender melhor a complexa retomada da vida sexual após o parto. Um estudo publicado no British Journal of Obstetrics and Gynaecology (BJOG) acompanhou centenas de mulheres e mostrou que a retomada da atividade sexual é gradual e influenciada por múltiplos fatores. A pesquisa destacou que, aos três meses pós-parto, a maioria das mulheres já havia retomado a vida sexual, mas que questões como cansaço, dor perineal e a própria dinâmica com o bebê eram tão importantes quanto os fatores hormonais.
Isso nos mostra que, embora a relação entre hormônios e libido seja um pilar central, não podemos ignorar o contexto. A privação de sono, a dor de possíveis lacerações ou da cicatriz da cesárea, a adaptação à nova rotina e as demandas de um recém-nascido são elementos poderosos que influenciam sua disposição. Seu corpo passou por um processo intenso e precisa de tempo para se recuperar.
Portanto, a ciência valida o que sentimos na pele: a recuperação é um processo multifatorial. Não existe um botão de “liga/desliga” para o desejo. Ele ressurge à medida que seu corpo cicatriza, seus hormônios se reequilibram e você encontra um novo ritmo como mãe, mulher e parceira. A paciência e a comunicação são suas maiores aliadas.
Reencontrando o desejo
Minha querida, a pergunta que mais ouço é: “Doutora, quando meu desejo vai voltar?”. Não há uma resposta única, mas posso te garantir que ele volta. À medida que o bebê cresce e as mamadas se espaçam, os níveis de prolactina começam a diminuir, permitindo que o estrogênio volte a subir e a ovulação seja retomada. Esse reequilíbrio hormonal é o primeiro passo para o retorno da libido.
Entretanto, mais do que esperar passivamente, você pode adotar uma postura ativa de autocuidado. Primeiramente, converse abertamente com seu parceiro(a). Explique suas sensações, medos e a base fisiológica para essa mudança. Isso fortalece o vínculo e alivia a pressão por desempenho. Além disso, invistam em outras formas de intimidade: abraços, beijos, massagens e momentos de carinho sem a expectativa do sexo.
Quando se sentir pronta para tentar a penetração, não hesite em usar lubrificantes à base de água. Eles são grandes aliados para combater o ressecamento vaginal e garantir mais conforto. E o mais importante: se a falta de desejo persistir por muito tempo e estiver causando sofrimento, não hesite em procurar ajuda. Nós podemos investigar as causas e encontrar soluções juntas.
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Uma parte natural do processo
A complexa dança entre hormônios e libido durante a gestação e o pós-parto é uma prova da incrível capacidade de adaptação do corpo feminino. Viver essas flutuações não é sinal de problema, mas sim uma parte natural e esperada desse processo transformador. Acolha suas mudanças com gentileza e informação.
Lembre-se que cada mulher tem seu próprio tempo. Não se compare com outras mães ou com a mulher que você era antes da gravidez. Você está em uma nova fase, com um novo corpo e novas prioridades. O desejo sexual se reorganiza dentro dessa nova realidade, muitas vezes de uma forma ainda mais madura e conectada.
Se você está passando por isso, tem dúvidas ou sente que precisa de um olhar mais atento para sua saúde íntima e hormonal, estou aqui para te ouvir. Agende uma consulta clicando no botão abaixo e vamos conversar, entender suas necessidades e encontrar os melhores caminhos para que você viva sua sexualidade e sua maternidade com plenitude, saúde e felicidade.