A relação entre o microbioma vaginal e a saúde reprodutiva

A ciência tem se debruçado cada vez mais sobre um tema fundamental, e que por muito tempo passou despercebido: o microbioma vaginal. Entender o papel dessas bactérias que convivem conosco naturalmente pode mudar a forma como enxergamos a fertilidade, a gestação e até o autocuidado no dia a dia.

Aqui no consultório, atendo muitas mulheres que chegam com dúvidas sobre corrimentos, odores, desconfortos… E nem sempre sabem que esses sintomas podem ter relação direta com o desequilíbrio da flora vaginal. Mais do que isso: esse desequilíbrio pode afetar as chances de engravidar, dificultar a implantação do embrião e até impactar a saúde do bebê.

Por isso, quero te convidar a conhecer esse universo. Vamos entender o que é o microbioma, por que ele é tão importante e como cuidar dele pode fazer toda a diferença para a sua saúde reprodutiva.

Microbioma vaginal: o que é, afinal?

O microbioma vaginal é um conjunto de micro-organismos, em sua maioria, bactérias boas, que vivem naturalmente na nossa região íntima. Ele funciona como uma espécie de escudo de proteção: mantém o pH equilibrado e impede a proliferação de bactérias e fungos que podem causar infecções.

Grande parte dessas bactérias pertence ao grupo dos lactobacilos. Elas produzem ácido lático, que mantém o ambiente vaginal levemente ácido, condição ideal para manter as bactérias “do bem” em equilíbrio e afastar as que podem causar danos.

Mas esse ecossistema é delicado. Estresse, alimentação desregulada, uso de antibióticos, duchas íntimas frequentes, alterações hormonais e até o tipo de roupa íntima que usamos podem causar desequilíbrio. E quando isso acontece, os riscos aumentam: infecções, inflamações, desconfortos e, sim, dificuldades para engravidar.

Microbioma e fertilidade: qual a conexão?

A ligação entre o microbioma vaginal e a fertilidade é mais profunda do que parece. Um ambiente íntimo saudável favorece a mobilidade e a sobrevivência dos espermatozoides, facilita a chegada até o óvulo e contribui para a implantação do embrião.

Quando a flora está desequilibrada, o cenário se inverte. A presença de bactérias nocivas pode gerar inflamações no colo do útero ou no endométrio, muitas vezes silenciosas, que dificultam ou até impedem a fecundação.

Estudos, como o publicado na Frontiers in Cellular and Infection Microbiology (2022), mostram que mulheres com microbioma dominado por lactobacilos têm melhores taxas de sucesso em fertilizações in vitro. Isso só reforça o que vejo na prática: cuidar do microbioma é cuidar da fertilidade.

E durante a gestação? O que muda?

Durante a gravidez, os hormônios se transformam, e o microbioma também acompanha essas mudanças. O aumento do estrogênio favorece o crescimento dos lactobacilos, o que protege contra infecções que poderiam colocar a gestação em risco.

Mas, se houver disbiose (um desequilíbrio dessa flora), os riscos aumentam: parto prematuro, rotura precoce da bolsa, infecções uterinas. Por isso, no pré-natal, fico sempre muito atenta aos sinais que o corpo dá. Às vezes, vale investigar mais profundamente com exames específicos, porque manter essa flora em equilíbrio é uma forma de proteger a mãe e o bebê.

Sinais de que algo não vai bem

Corrimento com odor forte, coceira, ardência ao urinar, dor na relação, irritação constante na região íntima… tudo isso pode indicar um desequilíbrio no microbioma.

Claro que nem todo corrimento é problema, o ciclo menstrual tem variações naturais. Mas se os sintomas são recorrentes ou incômodos, é sinal de que o corpo está pedindo atenção.

Outro ponto importante: nem sempre há sintomas. Muitas infecções são silenciosas, mas podem estar interferindo na fertilidade. Por isso, exames de rotina são essenciais, especialmente para quem está tentando engravidar ou em tratamento de reprodução.

Como cuidar do seu microbioma de forma natural?

A boa notícia é que é possível, sim, cuidar desse ecossistema com ações simples. Uma alimentação equilibrada, rica em fibras, vegetais, alimentos com probióticos naturais como iogurte, kefir, kombucha, já faz uma grande diferença.

Evitar duchas íntimas e o uso de sabonetes perfumados também é essencial. A limpeza em excesso pode tirar as bactérias boas e abrir espaço para as ruins. Roupas íntimas de algodão, respiráveis, e evitar roupas muito apertadas também ajudam muito.

Existem ainda suplementos e probióticos vaginais que podem ser recomendados — mas sempre com avaliação médica. Cada mulher é única, e o cuidado precisa ser individualizado.

E o que a ciência está dizendo?

Os estudos mais recentes estão ampliando o entendimento sobre o microbioma vaginal. Um artigo publicado na Nature Medicine (2021) mostrou que o tipo de microbioma pode até prever o sucesso de tratamentos como a FIV.

Outro estudo da Harvard Medical School revelou que mulheres com vaginose bacteriana, um tipo de disbiose, têm até 60% mais chance de complicações na gestação, incluindo parto prematuro.

Essas pesquisas reforçam o que a prática já nos mostra: o cuidado com o microbioma vai muito além do conforto íntimo. Ele é peça-chave na fertilidade, no sucesso da gestação e na saúde do bebê.

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Seu corpo fala, e merece ser ouvido com carinho

Cuidar do microbioma é mais do que prevenir infecções. É um gesto de respeito e escuta ao próprio corpo. Quando entendemos que saúde íntima e saúde reprodutiva estão conectadas, conseguimos fazer escolhas mais conscientes, amorosas e alinhadas com nossos objetivos.

Se você está tentando engravidar, já está gestante ou apenas quer conhecer melhor seu corpo, saiba: ele tem uma sabedoria incrível. Quando você cuida com atenção e carinho, tudo começa a se alinhar.

Se quiser entender como está seu microbioma, sua fertilidade ou garantir uma gestação saudável, agende uma consulta comigo. Vou te acolher com todo o cuidado que você merece. Esse momento é seu, e eu estou aqui para te acompanhar com leveza, informação e afeto.